sexta-feira, 29 de junho de 2012

Primeiro 'encontro'.

-Não nos conhecemos, mas acho que sua camiseta vale um café.

Após o término dos créditos do filme e quando a luz ofuscante resplandeceu em meu rosto, tudo o que eu percebi ao meu redor, foi a voz dela. A primeira coisa que Júlia me disse quando nos conhecemos.
Eu sorri sem jeito e ele ficou parada diante da minha cadeira esperando que eu dissesse algo. Com todo o mau jeito do mundo, eu sorri e meneei a cabeça. As palavras me faltaram.

Pode parecer que eu quero romantizar a situação, mas com o poder da licença poética, eu posso dizer que eu me apaixonei por Júlia à primeira vista.
Talvez, inicialmente, eu não tenha percebido o que aquilo representava, mas a grande verdade é que dentro de mim, eu sabia que nada poderia me manter longe dela desde o primeiro instante em que a vi.

Quando deixamos a sala de cinema e Júlia caminhou ao meu lado, foi como se nos conhecêssemos desde sempre. Não houve o habitual silêncio constrangedor de quando não conhecemos alguém e nos vemos obrigados a puxar um assunto.

Paramos em uma cafeteria próxima e Júlia pediu um cappuccino e torta de limão.
Pedi a primeira coisa que me veio a mente e observei Júlia por um instante. Era como se houvesse fogo dentro dela. Eu quase podia sentir a intensidade do outro lado da mesa. Ela, definitivamente, era especial.

Ela sorriu se apresentando enquanto eu me perdia em minhas próprias palavras parecendo uma garota de colegial. Me sentia tão menina perto dela, que mesmo franzina, agia como mulher formada e cheia de charme. Passamos um bom tempo naquele café e nos despedimos formalmente trocando telefones.

Voltamos a nos encontrar e cada vez com uma freqüência maior.
Era fácil estar com Júlia, podíamos passar horas sentadas uma ao lado da outra sem dizer uma só palavra enquanto o som tocava The Verve inúmeras vezes.
Quando queríamos ler o mesmo livro, alternávamos as noites e cada uma lia um capítulo para a outra.

Um dia, Júlia tocou-me sutilmente o rosto enquanto olhava-me de forma desejosa. Minhas pernas tremiam e meu coração disparou. Eu conhecia aquela sensação. Eu estava apaixonada. Totalmente entregue.
Então ela tomou-me nos braços e sussurrou em meu ouvido. Foi quando eu a ouvi dizer pela primeira vez a frase que marcaria pra sempre a nossa relação.

-Não se preocupe, nós permaneceremos pra sempre jovens.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

(Re) Conhecimento.


Por mais que estivesse acostumada com o estilo de vida das pessoas ao meu redor, eu nunca havia me colocado no lugar deles. Ou parado pra pensar que algo poderia me tirar da minha constante rotina.
Até que Júlia apareceu.
Nunca imaginei que poderia me apaixonar com uma mulher, mas com Júlia foi tão fácil que eu não conseguia pensar nela como gênero.
Júlia era apenas Júlia.
Quando a vi pela primeira vez não imaginava a drástica mudança que ela representaria pra mim. Recordo-me com exatidão a garota franzina que encarava o cartaz de Scoop com uma ansiedade quase palpável.
Observei-a por um instante. Os cabelos vermelhos estavam presos em um coque alto no topo de sua cabeça. Ela usava jeans rasgados nos joelhos e all star sujo. Mas meu coração travou quando olhei sua camiseta.
Não pude evitar sorrir diante do fato. Enquanto a dela dizia ‘Clairaudients’, a minha dizia ‘(Kill Or Be Killed)’ e nossas camisetas se completavam formando o título de uma canção de Bright Eyes.
Eu deveria ter percebido naquele momento, mas me afastei apenas pensando sobre a ironia da situação. Enquanto na sala do cinema eu esperava os trailers passarem, notei a estranha garota subindo as escadas. Tentei fixar meus olhos na tela, mas não pude evitar de acompanhá-la pela visão periférica, até que ela caminhou pela fileira que eu estava e sentou-se prontamente ao meu lado.
De todos os lugares vazios na sala, ela sentou-se justamente à minha direita. Ela tinha cheiro de cereja, eu pude sentir, e tentei ao máximo me concentrar em um trailer qualquer que estivesse passando na hora.
O filme começou e eu passei a, estranhamente, ficar confortável com a presença da desconhecida ao meu lado. Em algum momento do filme ela tranquilamente me passou a pipoca e eu inconscientemente peguei e comi. Para então um minuto depois perceber o que eu estava fazendo. Olhei-a surpresa e ela me observava com uma calmaria agradável.
Nenhuma de nós disse nada, mas naquele momento eu percebi que a amava. E que a amaria incondicionalmente enquanto ela mantivesse aquele olhar sobre mim.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Sua ida.

Quando eu paro pra pensar em Júlia, percebo que não há nada sobre ela que eu não recorde com absoluta precisão.
Desde a forma como as covinhas lhe apareciam no rosto quando ela sorria até o cheiro de erva doce que tinha o hidratante que ela costumava usar na hora de dormir.
Júlia não se julgava bonita e nem mesmo o era, diante do padrão estabelecido dentro desses estereótipos. Tinha uma pele extremamente alva e pequenas sardas que lhe enfeitavam as bochechas. Seu cabelo vermelho tremeluzia como fogo durante os poucos dias ensolarados de São Paulo. Seus cabelos não eram lisos e nem cacheados.
Júlia era mais do tipo que brigava com o pente e desistia no meio da luta. Jogava o cabelo pra um lado e sorria desajeitada de uma forma absolutamente linda. Seus olhos castanhos se estreitavam por detrás dos óculos de leitura toda vez que me via passeando diante dela pra chamar sua atenção.
Júlia não era curvilínea, mas tinha uma sensualidade só dela. Nunca fora muito vaidosa, mas o batom vermelho era sua marca registrada. Com ela, a vida parecia mais feliz. Sua presença era tão agradável que era fácil trocar qualquer festa por programas inúteis de domingo na TV.
Tinha um beijo que me enlouquece só de lembrar. No sexo, nossos corpos se entrelaçavam com um encaixe perfeito. Como se tivéssemos sido feitas uma pra outra.
E na manhã seguinte eu acordava com o cheiro de ovos com bacon impregnado pelo apartamento enquanto ela cantarolava Forever Young. Vê-la descalça vestindo apenas uma camiseta e uma calcinha enquanto cozinhava pra mim era como uma visão dos deuses.
Eu sempre me aproximava por detrás e a beijava a nuca, enquanto ela se virava e de repente estávamos fazendo amor sobre a pia enquanto a chaleira apitava anunciando o café pronto.
Falava baixo com voz suave e tinha um sotaque carioca que eu me deliciava ao ouvir. As pontas de seus dedos eram delicadas e suas unhas nunca estavam pequenas demais ou compridas demais.
Apaixonar-se por ela foi, provavelmente, a coisa mais fácil que eu já fiz. Ela tinha o constante gosto de cereja na boca e juntas, éramos o casal perfeito.
Então imagine a minha surpresa ao chegar em casa e deparar-me com o vazio absoluto.
Não havia a habitual música tocando, sua parte no guarda-roupa estava limpa e a única coisa que tinha ficado pra trás foi um guardanapo dentro da aliança sobre o mármore da mesa. Neste, continha apenas a mensagem ‘Hora de libertar-se’ e a marca de um beijo. Aquele vermelho vívido de seu batom.
Júlia foi meu primeiro amor.
E se fora tão repentinamente quando entrara na minha vida.
Quando eu paro pra pensar em Júlia, percebo que não há nada sobre ela que eu não recorde com absoluta precisão.
Desde quando nos esbarramos pela primeira vez na fila do cinema pra ver um filme do Woody Allen até a última noite de amor quando ela me beijou a boca antes de dormirmos e me disse que permaneceríamos eternamente jovens.