Há dois meses atrás, esbarrei em Carina no meio da rua.
Trocamos algumas palavras de trivialidades e em meio à conversa, perguntei por
Júlia.
Carina me pareceu um tanto desconfortável, talvez por já saber de tudo o que aconteceu entre nós e por saber como Júlia me abandonou à minha própria sorte depois de eu ter lhe dado a minha vida.
Carina me pareceu um tanto desconfortável, talvez por já saber de tudo o que aconteceu entre nós e por saber como Júlia me abandonou à minha própria sorte depois de eu ter lhe dado a minha vida.
Ela me respondeu superficialmente que a última notícia que
tivera de Júlia, foi que esta estava em Portugal fazendo um intercâmbio.
Trocamos telefone educadamente, como quem promete entrar em contato, mas que
sabe que isso realmente não vai acontecer.
Depois dessa notícia caminhei um tempo meio sem rumo, meio
abalada, até que parei em frente a cafeteria onde tive meu primeiro ‘encontro’
com Júlia. Sorri do acaso do destino que me levara até ali e entrei. Sentei no
mesmo lugar que Júlia sentara aquele dia, pedi o mesmo capuccino e a mesma
torta de limão. Fitei a cadeira à minha frente onde eu estivera sentada naquele
dia e tentei me colocar no lugar de Júlia.
O que ela estaria pensando naquele dia? O que ela viu quando
me olhou nos olhos pela primeira vez? Tinha ela em mente me deixar sozinha após
sete meses juntas? Será que Júlia havia me deixado para viajar para Portugal?
Só então me dei conta de como eu estivera sendo egoísta.
Talvez Júlia houvesse me deixado apenas porque tinha que partir e sabia que
qualquer despedida doeria mais. Tentar limpar um ferimento vagarosamente torna
a dor mais longa do que apenas limpá-lo de uma vez por todas.
Eu tinha que ficar feliz por Júlia, afinal ela estava
realizando seu sonho. E então eu recordei daquele dia.
~*~
-Um dia, iremos juntas a Paris. – Júlia comentou enquanto
assistíamos Amélie Poulain.
-E vamos usar muita roupa amarela e vermelha. – eu completei
sorrindo enquanto a observava.
-Eu sempre quis conhecer a Europa. A neve. Aqueles casacos
de frio. Todo mundo parece tão perfeito e feliz. –ela emendou.
-Você é a carioca menos carioca que eu já vi na minha vida.
Onde já se viu preferir frio à calor quando se nasce em meio ao sol e praia? –eu
gargalhei.
Júlia me encarou.
-Por isso mesmo. Estou cansada disso tudo. Na verdade estou
cansada dessa monotonia de sempre. Queria viajar, conhecer novos lugares.
Explorar novos mundos. Um dia eu vou à Europa, e vou comprar muitas coisas e
viver muitas aventuras e abrir minha mente e minha vida para novas
oportunidades. –ela disse olhando para o nada.
Seus olhos cintilaram e ela não parecia mais estar se
dirigindo à mim.
~* ~
Talvez eu devesse ter percebido ali que em algum momento ela
partiria, afinal éramos totalmente diferentes. Júlia era livre, aberta ao
mundo, aventureira, hiperativa. E eu era... Apenas eu. No meu modo simples de
ver as coisas e acomodada com a situação quando essa estava aceitável.
Naquele dia, se eu tivesse percebido, talvez o choque
tivesse se tornado menor, mas na época eu apenas sorri do jeito menina de Júlia
e nos lambuzamos em morangos e chocolate.
Era isso. Eu tinha que ficar feliz por Júlia, afinal ela
estava realizando seu sonho.
E então eu me dei conta do que eu deveria fazer a partir daquele momento.
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